Não há como falar de mudança climática sem falar de pessoas. Ainda que esse seja um fenômeno global, certamente seus impactos têm repercussão distinta e desproporcional sobre a população, conforme o nível de vulnerabilidade, acesso a recursos e serviços, além de outros aspectos como cor, raça, etnia, gênero etc., que se combinam para acentuar o problema.
Comunidades mais vulneráveis e países menos desenvolvidos, embora contribuam minimamente para o agravamento da crise do clima, frequentemente são os mais propensos a sentir seus efeitos de maneira mais intensa, devido à estrutura e recursos limitados para se adaptar, responder e enfrentar esse desafio.
Nesse contexto, a justiça climática visa garantir que as populações mais suscetíveis às implicações negativas das alterações do clima sejam prioritárias nas iniciativas de mitigação, adaptação e resiliência.
Como já se sabe, a emissão de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera se destaca como a causa central do aquecimento global e consequentes mudanças climáticas. Os países mais ricos e industrializados são os principais responsáveis pelas emissões históricas desses gases, ao se beneficiarem essencialmente da utilização de combustíveis fósseis para impulsionar seu desenvolvimento.
Sendo assim, o conceito de justiça climática defende maior responsabilidade, investimentos e suporte dos países e empresas que mais exploram os recursos do planeta e, portanto, deveriam assumir o ônus de suas práticas e atuar na reparação dos danos provocados, através de uma abordagem inclusiva, que contemple as disparidades entre os afetados.
É evidente que esta temática transcende a esfera ambiental e está intrinsecamente ligada à dimensão social, especialmente aos direitos humanos. Portanto, quando se aborda justiça climática, remete-se também a justiça social.
A alteração nos padrões climáticos já não é mais percebida unicamente como uma adversidade ambiental, associada somente à ocorrência de inundações, incêndios florestais, eventos meteorológicos severos. A emergência climática representa também o desencadeamento de uma crise humanitária, considerando os prejuízos que acarreta à saúde, ao bem-estar e à vida das pessoas em todo o mundo, principalmente dos grupos mais expostos e marginalizados.
A desaceleração e a reversibilidade da crise climática perpassam por uma série de ações urgentes, que vão desde transformações estruturais na forma como produzimos e consumimos energia, até a implementação de políticas globais que promovam o desenvolvimento sustentável.
Contudo, tão importante quanto fomentar e colaborar com essas medidas, é assegurar que as discussões e decisões atreladas à mudança do clima sejam pautadas pela transparência, responsabilidade e transversalidade, incluam a participação dos grupos sociais mais atingidos, se mostrem sensíveis aos seus direitos e necessidades e busquem soluções equitativas e uma distribuição justa dos benefícios e encargos.
Com a mobilização global para a integração de metas e indicadores que abordem as questões climáticas no setor financeiro e em toda a sua cadeia e, levando em conta o impacto que as operações empresariais causam à sociedade e ao planeta, o alinhamento às estratégias de gestão ESG, aos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), aos Princípios Orientadores da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos, com foco no conceito de justiça climática, se apresenta como norteador para a adoção de iniciativas de combate às alterações do clima, bem como a construção de um modelo de negócios mais sustentável e que gere valor compartilhado.