O atual modelo capitalista, que coloca o mercado como prioridade, tem contribuído para a ampliação das desigualdades, visto que direciona a produção para a pequena parcela da população com poder aquisitivo, visando essencialmente a maximização de lucros. Em contraste, a grande urgência deste século é atender as aspirações da enorme fração da humanidade excluída de seus direitos e sem condições de consumo.
O conceito de “Capitalismo de Stakeholders”, sugerido pelo engenheiro e economista alemão Klaus Schwab, propõe que as empresas devem considerar e responder às necessidades e interesses de todas as partes envolvidas em suas operações, em vez de se concentrar exclusivamente nos acionistas.
Klaus Schwab é fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, uma organização internacional que promove o diálogo entre líderes de diversos setores para discutir questões globais e de relevância para a população, através de encontros anuais, em Davos, na Suíça.
No Manifesto de Davos de 2019, Schwab estimula o estabelecimento de metas ESG, defendendo que o desempenho de uma empresa deve ser medido não somente pelo retorno financeiro aos acionistas, mas também pelo alcance de objetivos ambientais, sociais e de governança.
Um dos desafios das instituições que procuram evoluir em sustentabilidade e ESG é mostrar o “valor” do que fazem, isto porque, a legitimidade das operações empresariais vem sendo questionada ao longo do tempo, sob a visão de que as organizações prosperam às custas da comunidade e nem sempre dão o retorno socioambiental e moral esperado ou devido.
A teoria do valor compartilhado, dos professores da Universidade de Harvard, Michael Porter e Mark Kramer, prevê a geração de valor econômico, aliada à criação de valor para a sociedade, considerando o enfrentamento de suas carências e desafios. Para eles, conectar o sucesso da organização ao progresso social propicia o atendimento a novas necessidades, traz ganhos de eficiência, diferenciação e expansão de mercados.
Ainda, segundo essa concepção, em uma economia centrada no valor compartilhado, a lucratividade que incorpora um propósito social representa um nível mais elevado de capitalismo, possibilitando o avanço mais rápido da sociedade, enquanto promove o crescimento contínuo das empresas. Isso resulta em um ciclo virtuoso de prosperidade tanto para as organizações quanto para a comunidade, levando a lucros duradouros.
A ABNT PR 2030:2022, documento normativo que aborda os principais conceitos e princípios ESG, menciona que, tanto o Capitalismo de Stakeholders quanto a teoria do valor compartilhado, são meios inovadores de estabelecer relações de cooperação e desenvolvimento mútuos entre a empresa e a sociedade. Assim, é pertinente que as instituições pesem os anseios e expectativas das partes interessadas em suas práticas ESG.
Nesse contexto, a convergência entre ESG, Capitalismo de Stakeholders e a teoria do valor compartilhado reside no propósito de abordagem, que estimula as organizações a se posicionarem como agentes de transformação, na busca de soluções sustentáveis para si e para a comunidade, alinhando seus objetivos corporativos com os interesses dos entes envolvidos e as demandas globais.
As estratégias ESG ampliam os preceitos convencionais de valor, propondo uma nova maneira de fazer e gerir negócios. Conciliando esse tripé com as premissas do Capitalismo de Stakeholders e a teoria do valor compartilhado, as empresas podem encontrar oportunidades de negócios que também contribuam para o bem-estar coletivo, criando uma sinergia entre o sucesso econômico e o desenvolvimento social.