Nos últimos anos, o mundo dos negócios tem testemunhado um intenso debate em torno do papel das empresas na sociedade, destacando o dilema entre potencializar o lucro para os acionistas (shareholders) e agregar valor para os diversos grupos de interesse (stakeholders), incluindo clientes, colaboradores, fornecedores, comunidades etc.
Mas, é preciso privilegiar um deles em detrimento a outro? Esse trade-off é particularmente evidente no contexto do ESG, que representa as dimensões ambiental, social e de governança que as organizações passaram a incorporar em suas operações.
Historicamente, o principal objetivo das empresas era gerar lucro para os acionistas, seguindo o modelo conhecido como “capitalismo tradicional”. No entanto, as crescentes preocupações e demandas globais urgentes, aliadas à exigência do mercado financeiro pela adoção das estratégias ESG, levaram a uma mudança de paradigma. Organizações e investidores agora reconhecem a importância de considerar não apenas o retorno financeiro, mas também o impacto ambiental, as iniciativas sociais e a integridade corporativa em seus negócios.
O desafio reside na busca por um equilíbrio entre o lucro para os acionistas e a criação de valor para os stakeholders. Instituições que optam por uma abordagem centrada apenas nos acionistas podem negligenciar práticas que prejudicam o meio ambiente, exploram trabalhadores ou contribuem para disparidades sociais, por exemplo. Por outro lado, aquelas que procuram priorizar os stakeholders podem se deparar com a resistência de acionistas preocupados com a maximização dos retornos financeiros.
A implementação eficaz de práticas ESG pode oferecer uma ponte para superar esse impasse aparente. Empresas comprometidas com a sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e governança ética podem, a longo prazo, beneficiar tanto shareholders quanto stakeholders. A consideração cuidadosa desses aspectos pode corroborar com a construção de uma reputação sólida, gerando confiança do consumidor, retendo os melhores profissionais e mitigando riscos operacionais.
O fato é que o relacionamento bem-sucedido com os stakeholders é que vai resultar em lucro para o acionista, uma vez que todos eles têm participação nesse processo. Começando pelos colaboradores, se estes não estiverem satisfeitos e motivados, não serão produtivos, não atenderão bem os clientes, não assumirão o compromisso de alcançar os resultados esperados. Do mesmo modo, a escolha e a gestão inadequadas da cadeia de fornecedores podem acarretar problemas trabalhistas e ambientais, indisponibilidade de insumos capazes de afetar a qualidade dos produtos ou serviços etc., o que implica em danos à imagem, desvalorização da marca e perda de participação de mercado, bem como influencia na fidelização e satisfação dos clientes, que precisam estar no foco estratégico do negócio. Além disso, o diálogo constante e o atendimento às necessidades e expectativas da comunidade do entorno em que o empreendimento está inserido, garante a obtenção da chamada Licença Social para Operar – LSO, evitando conflitos e assegurando a viabilidade e manutenção das atividades no local, através de uma relação “ganha-ganha”.
Portanto, não é possível gerar lucro para o acionista sem a atuação harmoniosa e colaborativa de todos os agentes envolvidos, dos quais não se deve minimizar a relevância. Encontrar soluções que alinhem os interesses de todas as partes interessadas, é fundamental para o sucesso a longo prazo das empresas, frente a uma realidade cada vez mais consciente e interconectada.
Nessa perspectiva, conciliar a rentabilidade dos acionistas e o valor para os stakeholders não deve ser encarado como algo incompatível, mas como uma oportunidade. Organizações que conseguem vencer esse suposto paradoxo e transcender a visão míope que se concentra exclusivamente no lucro, podem não apenas prosperar financeiramente, mas também contribuir positivamente para a sociedade e o meio ambiente, construindo um legado sustentável para as gerações futuras.