As tragédias climáticas que têm castigado o Brasil e o mundo não são uma surpresa. São, sim, a triste concretização de um cenário que se desenha há anos, marcado por ocupações irregulares em áreas de risco, desmatamento desenfreado, aquecimento global, falta de planejamento do poder público para enfrentar esses problemas, entre outros.
O que costumamos chamar de “desastres naturais”, têm sido, na verdade, “tragédias anunciadas”. Afinal, as causas do agravamento da crise climática são amplamente conhecidas e poderiam ter sido evitadas, se as medidas necessárias para conter seu avanço tivessem sido implementadas a tempo.
Dessa forma, o que já foram fenômenos naturais, hoje ocorrem com maior frequência e intensidade, devido à interferência das atividades humanas, que afetam a dinâmica do sistema terrestre. Quase que a totalidade de gases do efeito estufa que causam o aquecimento global provém da queima de combustíveis fósseis, do desmatamento, da agricultura, da pecuária e da produção industrial.
Além disso, as cidades brasileiras se expandem desordenadamente, engolindo áreas de preservação ambiental e morros íngremes. Famílias, muitas vezes sem alternativas, constroem suas casas em locais impróprios, à mercê de chuvas intensas e deslizamentos de terra.
Completando o cenário, a falta de políticas públicas adequadas de prevenção, mitigação e adaptação a eventos climáticos severos contribui para acentuar os efeitos da tragédia. Por vezes, os sistemas de alerta são ineficientes, o planejamento urbano ignora os riscos e a infraestrutura necessária é insuficiente ou inexistente.
O resultado dessa combinação perigosa é a devastação que vemos hoje: casas, comércios e plantações destruídos, vidas ceifadas, cidades submersas em lama e sofrimento. Em outro extremo, a seca também tem assolado e prejudicado uma parcela significativa da população. O custo humano e material dessas tragédias é incalculável e os traumas das vítimas podem levar anos para serem superados.
É urgente que sejam tomadas medidas drásticas para conter essa onda de calamidades, o que inclui: investir em políticas públicas de habitação, urbanização e preservação ambiental; tornar as cidades e populações resilientes; garantir que as famílias em situação de vulnerabilidade tenham acesso a moradias seguras e dignas; punir os responsáveis pelo desmatamento ilegal; cobrar maior proatividade do poder público na prevenção e no atendimento a esses desastres (nada naturais); conscientizar a população sobre a importância de práticas sustentáveis e do respeito ao meio ambiente, começando desde cedo nas escolas.
Somente com ações conjuntas, integradas e eficazes, envolvendo poder público, iniciativa privada, sociedade civil, comunidade acadêmica, poderemos transformar essa realidade desoladora em um futuro mais seguro e sustentável para todos. Para enfrentar as tragédias climáticas que atingem o Brasil e o mundo, é imprescindível um compromisso coletivo e imediato.