A concepção de materialidade envolve analisar o que é essencial, relevante ou significativo em relação a um objetivo específico. No âmbito corporativo, é uma ferramenta para mapear e priorizar as questões mais importantes para a organização e seus stakeholders.
No contexto da estratégia ESG, os temas materiais são utilizados para considerar riscos e oportunidades relacionados às questões ambientais, sociais e de governança, que afetam o desempenho das empresas e suas partes interessadas, de modo a indicar a contribuição (positiva ou negativa) das organizações para o desenvolvimento sustentável.
Numa abordagem mais ampla, abarcando a perspectiva de “Capitalismo de Stakeholders”, surge o conceito de dupla materialidade, que consiste em abordar a temática sob dois aspectos: contemplando o impacto da organização sobre o meio externo (materialidade de impacto) e o impacto das externalidades sobre a organização, afetando sua capacidade de geração de valor (materialidade financeira).
Quando se trata de sustentabilidade e ESG, existem algumas metodologias que apresentam diretrizes para determinar a materialidade, baseadas em normas e frameworks, como: GRI (Global Report Initiative), SASB (Sustainability Accounting Standards Board) e GRESB (Global Real Estate Sustainability Benchmark).
A ABNT PR 2030:2022 referencia, de maneira adaptada, a metodologia GRI (2021), com quatro etapas para a definição da materialidade, sendo elas: entendimento do contexto da organização, identificação de impactos reais e potenciais, avaliação de significância dos impactos e priorização dos impactos para determinar os temas materiais.
Ainda, de acordo com a Prática Recomendada, a escolha e priorização dos temas materiais auxiliam as empresas na destinação de recursos, esforços e tempo para aprimorar a capacidade de gerar valor social e econômico, através de seus processos, produtos e serviços e também servem para indicar o que deve ser relatado às partes interessadas.
Além disso, o documento prevê a necessidade de as organizações reverem periodicamente os temas materiais concernentes ao seu modelo de negócios, visto que, podem passar por mudanças, seja pelo amadurecimento e evolução contínua dos temas ou pela colaboração dos stakeholders e cadeia de valor, por exemplo.
A elaboração de uma matriz de materialidade possibilita a gestão dos critérios ESG, sendo muito importante que esteja alinhada aos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), os quais fornecem estrutura e direcionamento para orientar ações focadas no alcance do desenvolvimento sustentável. Essa interseção com os ODS pode nortear de maneira estratégica os esforços em prol da sustentabilidade, ao abordar as questões julgadas mais pertinentes tanto para a organização em si como para a agenda global. Isso resulta em um impacto positivo no avanço do desenvolvimento sustentável.
A participação das partes interessadas na identificação das questões materiais é fundamental para o sucesso de uma estratégia ESG sólida e abrangente, pois esse público inclui um amplo espectro de grupos que podem ser afetados pelas atividades de uma empresa ou tem o potencial de impactar a organização de alguma forma. Nesse sentido, torna-se primordial compreender o que é prioritário tanto para a instituição quanto para os demais agentes envolvidos. Isso não apenas diversifica e pode trazer mais legitimidade e qualidade ao trabalho realizado, mas também favorece o fortalecimento das relações entre as organizações e seus stakeholders.
Uma vez definida a materialidade e estabelecidas as prioridades, faz-se necessário que as empresas respondam aos temas ESG pautados e seus impactos, através de metas e objetivos, melhoria de produtos, serviços e processos de gestão, indicadores alinhados aos temas, com monitoramento, análise crítica e divulgação dos resultados.